Ana Carolina Monteiro Fernandes
Bolseira do Instituto Internacional de Macau / Real Gabinete Português de Leitura
O tempo: ontem, hoje e amanhã
Ao findar do século XX e do segundo milênio da era cristã (dezembro de 1999), macau veio a tornar-se uma região administrativa especial da china, após quinhentos anos de presença portuguesa, fato que em si mesmo teve e tem imenso significado histórico e cultural. Algumas notas breves sobre o que isto significa para a história da humanidade lusa e chinesa no dealbar do século XXI e do terceiro milênio da era cristã, constitui o cerne deste pequeno ensaio.
Desde os primórdios da idade moderna, séculos XV e XVI, quando se abriu o ciclo das grandes navegações marítimas lideradas pelos povos ibéricos de Espanha e Portugal, não se tem visto transformação tão significativa na ordem mundial como a emergência da China como potência econômica global na primeira década do século XXI. Nessa caminhada para o novo século, desde a reforma e abertura, em 1978, a China encontra o desafio da sua reunificação que, iniciada pelo retorno de Hong Kong à soberania chinesa, tem na recuperação de Macau uma simbólica marca da emergência de uma relação harmoniosa da China com o mundo da lusofonia.
Exatamente há quinze anos, no dia 20 de dezembro de 1999, nascia a Região Especial Administrativa de Macau, na China; pequeno acontecimento altamente significativo do final do século XX. Desde então muitas transformações ocorreram na economia e na vida mundial, pondo à prova a capacidade e o talento inovador do homem de Macau para gerir com autonomia, e criar um ambiente único de encontro do ocidente com o oriente.
Ambiente único de encontro de uma cultura singular do ocidente latino – a lusitana, baseada na língua do povo português; e a cultura matriz do oriente sínico, baseada na língua do povo han. Acontecimento que se amplia a uma dimensão global, dado o tamanho da população de 260 milhões de lusofalantes, que integra a comunidade de países de língua portuguesa, presente em todas as regiões do mundo.
Em Macau, portanto, se encontraram duas culturas de significado especial para o Brasil porque baseadas na extensão universal das línguas de cultura chinesa e portuguesa.
Trata-se neste ensaio de abordar uma questão sensível ao universo do que Fernando Pessoa um dia denominou de “o grêmio da cultura portuguesa”: o fato de que o Brasil e Portugal têm uma mesma língua de cultura e basicamente formam um mesmo processo civilizatório.
Desde quando o grande navegador Vasco da Gama chegou a Calicute (1498), e inaugurou a presença lusitana na Ásia, que os primeiros contatos se deram com comerciantes chineses que vendiam porcelana e seda aos portugueses. Mais tarde Afonso de Albuquerque pode realizar seu sonho visionário da conquista portuguesa de Malaca, conseguindo com este feito fazer do índico, tal como o oceano atlântico, um mar português. Toda uma grande estratégia imaginada por Afonso de Albuquerque para que Portugal se tornasse a potencia maritima do ocidente começou a dar seus frutos. Mais adiante, ele enviou o navegador Jorge Álvares ao estuário do rio pérola, a inaugurar um ciclo de viagens que iriam durar séculos e perpetuar a presença lusitana em terras do oriente. Pois, na sequencia, o Japão e a Coreia também seriam visitados por navegadores e missionários a serviço do rei de Portugal; e assim foram sendo demarcadas as fronteiras da lusitanidade.
Como assinalou Fernando Pessoa em seu livro “Mensagem”, o intérprete dos símbolos e rituais que iluminam o desenvolvimento dos destinos nacionais tem que possuir cinco qualidades ou condições para que esses símbolos e ritos tenham vida para ele: simpatia; intuição; inteligência; compreensão; e a graça, ou, talvez, a mão do superior incógnito.
Essas qualidades ou condições estavam presentes em Luis de Camões, quando escreveu “Os Lusíadas” no auge da epopéia marítima portuguesa, como também se apresentaram em Fernando Pessoa, de forma inigualável no começo do século XX, quando este produziu “Mensagem”, onde encontra-se o poema segundo /o das quinas: – “ Os deuses vendem quando dão./ Compra-se a glória com desgraça./ Ai dos felizes, porque são/ só o que passa!/ Baste a quem baste o que lhe basta/ o bastante de lhe bastar!/ a vida é breve, a alma é vasta:/ ter é tardar./ foi com desgraça e com vileza/ que deus ao cristo definiu:/ assim o opôs à natureza/ e o filho o ungiu”.
Neste livro que o autor queria chamar de Portugal, encontramos como uma síntese poética e filosófica da nação portuguesa e do povo luso desde sua mais remota origem.
Assim vemos no poema sobre Viriato: “Se a alma que sente e faz conhece/ só porque lembra o que esqueceu,/ vivemos, raça, porque houvesse/ memória em nós do instinto teu./ nação porque reincarnaste,/ povo porque ressuscitou/ ou tu, ou o de que eras a haste –/ assim se Portugal formou./ Teu ser é como aquela fria/ luz que precede a madrugada, é já o ir a haver o dia/ na antemanhã, confuso nada”.
Noutro poema sobre o Conde D. Henrique dirá: “Todo começo é involuntario./ deus é o agente./ o herói a si assiste, vario/ e inconsciente./ À espada em tuas mãos achada /teu olhar desce./ “que farei eu com esta espada?”/ Ergueste-a, e fez-se.” E sobre D. Tareja: “as nações todas são misterios./ Cada uma é todo o mundo a sós./ Ó mãe de reis e avó de impérios,/ vela por nós!/ teu seio augusto amamentou/ com bruta e natural certeza/ o que, imprevisto, deus fadou./ por ele resa!/ dê tua prece outro destino/ a quem fadou o instinto teu! O homem que foi o teu menino/ envelheceu./ mas todo vivo é eterno infante/ onde estás e não há o dia./ No antigo seio, vigilante,/ de novo o cria!”
Finalmente D. Afonso Henriques: “Pai, foste cavaleiro./ Hoje a vigília é nossa./ Dá-nos o exemplo inteiro/ e a tua inteira força!/ dá, contra a hora em que, errada,/ novos infiéis vençam,/ a benção como espada,/ a espada como benção!”.
A aventura abriu o caminho das rotas oceânicas do mundo gerando o mercado universal contemporâneo; e tal feito está na origem do fenômeno da soi-disant globalização. Esse fato está definitivamente retratado na imortal epopéia camoniana, sobretudo nos versos que fecham o grande poema, no canto x, 152.: “fazei, senhor, que nunca os admirados/ ale- mães, galos, ítalos e ingleses,/ possam dizer que são para mandados,/ mais que para mandar, os portugueses ”.
Sé Catedral de Macau.
A poesia desses dois autores maiores da nossa língua portuguesa é um testemunho vivo da trajetória seguida pela gente lusitana, que construiu o Brasil, a África e a Ásia como pátria humana comum. Os dois poetas representam o que de melhor a lusitanidade inspirou, em diferentes épocas da história, a saga da humanidade ocidental nascida do genio do infante, e mais profunda, se faz presente na poesia de Pessoa: – “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce./ Deus quis que a terra fosse toda uma,/ que o mar unisse, já não separasse./ Sagrou-te, e fôste des- vendando a espuma,/ e a orla branca foi de ilha em continente,/ clareou, correndo, ate ao fim do mundo,/ e viu-se a terra inteira, de repente,/ surgir, redonda, do azul profundo./ Quem te sagrou criou-te português./ Do mar e nós em ti nos deu sinal./ Cumpriu-se o mar, e o imperio se desfez./ Senhor, falta cumprir-se Portugal!”
O sonho universal da humanidade una e da pátria grande, nos versos de Fernando Pessoa, mostra o horizonte imenso que descortina do mar português: “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/ quantos filhos em vão rezaram!/ Quantas noivas ficaram por casar/ para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena/ se a alma não é pequena./ Quem quer passar além do Bojador/ tem que passar além da dor./ Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ mas nele é que espelhou o céu”.
Os poemas de Fernando Pessoa fazem, pois, ecoar, séculos decorridos de sua criação, os versos de abertura do poema épico “Os Lusíadas”, de Luis de Camões, em suas estrofes iniciais (1,2, 3):
“As armas e os barões assinalados,/ que, da ocidental praia lusitana,/ por mares nunca antes navegados,/ passaram ainda além da taprobana,/ em perigos e guerras esforçados/ mais do que prometia a força humana, e entre gente remota edificaram/ novo reino, que tanto sublimaram;” “e também as memórias gloriosas/ daqueles reis que foram dilatando/ a fé, o império, e as terras viciosas / de áfrica e de ásia andaram devastando,/ e aqueles que por obras valorosas/ se vão da lei da morte libertando:/ cantando espalharei por toda parte,/ se a tanto me ajudar o engenho e arte.” “cessem do sábio grego e do troiano/ as navegações grandes que fizeram;/ cale-se de Alexandro e de Trajano/ a fama das vitorias que tiveram,/ que eu canto o peito ilustre lusitano,/ a quem Netuno e Marte obedeceram./ Cesse tudo o que a musa antiga canta,/ que outro valor mais alto se alevanta.”
O alto valor literário do legado de Camões para a literatura portuguesa e mundial inaugurou uma época da história da humanidade em que as bases de um sistema internacional eram lançadas pelo comércio e a interação entre povos e civilizações: os descobrimentos das rotas oceânicas do mundo, a unir pela primeira vez todos os continentes e todos os meios de riqueza e poder do homem, fruto da grande aventura marítima de Portugal, talvez só tenha símile na conquista do cosmos da nossa época.
Quando brasileiros exaltamos a grande conquista do povo português é porque ela não pode ser esquecida pelo que significou para o destino nacional do Brasil. Sem a epopéia portuguesa dos descobrimentos não haveria a nação brasileira tal como é conhecida de seus filhos e de todos os demais povos do mundo contemporaneo. Só por isso se justificaria a grande aventura do espírito luso. Mas pode ser inda hoje medida pela construção ainda incompleta do outro Brasil – o brasil africano – legado a ser realizado no futuro pelos países que formam a comunidade de língua portuguesa na África.
Pois além da África, a Índia e a China foram também tocadas pela presença lusa na língua e na cultura. Desse modo podemos dizer que todo o mundo civilizado foi unido pela língua portuguesa: uma língua universal pela riqueza de sua expressão e pelo âmbito que ela criou.
I - O interregno:
promessa e realização
Mas com a mesma força com que se ergueu a nação lusa, ela também declinou e deixou de guiar e comandar a história ocidental. A morte de D. Sebastião e a absorção pela Espanha filipina retirou dos portugueses a liderança ibérica, mas não decretou o fim da independência do primeiro estado unitário europeu.
A “restauração bragantina”, em 1640, daria uma nova vida ao mundo português, dando a Portugal sobretudo os mitos do sebastianismo e do quinto império. “E assim, passados os quatro/ tempos do ser que sonhou, / a terra será teatro/ do dia claro, que no atro/ da erma noite começou. Grécia, roma, cristandade,/ europa – os quatro se vão/ para onde vai toda idade./ quem vem viver a verdade/ que morreu D. Sebastião?” O sonho do quinto imperio um dia animou o imperador da língua portuguesa, Padre Antonio Vieira: – “no imenso espaço seu de meditar,/ constelado de forma e de visão,/ surge, prenuncio claro do luar,/ el rei D. Sebastião./ Mas não, não é luar: é luz e etereo./ É um dia; e no céu amplo de desejo,/ a madrugada irreal do quinto império/ doiro as margens do tejo”.
Templo de A-Ma, em Macau.
Talvez a história tenha acelerado o processo de construção do Brasil, com as reformas pombalinas que determinaram que a língua portuguesa se implantasse na América lusa. Logo, de província de ultramar que era, ver-se-á guindada à condição de reino unido a Portugal e algarves pelo principe regente e, logo, rei do Brasil, D. Joao VI. A sua obra como rei de duas pátrias unidas pela língua e cultura comum foi decisiva para a unidade e integridade do Brasil e para a sorte de Portugal. Assim, em manifesto à nação portuguesa, ao justificar sua partida para outras terras portuguesas para preservar sua real pessoa da vassalagem a Napoleão, sabia mais do que declarou, pois manteria não somente a chama votiva da independência lusa nas terras brasílicas como lançaria as bases permanentes do Brasil como maior estado ocidental e meridional do mundo.
Finalmente, quando veio acontecer a separação dos dois lados do oceano, com o grito do Ipiranga em sete de setembro de 1822, a casa de bragança se parte em duas: com o rei de Portugal, em Lisboa, e o seu filho imperador do Brasil, no Rio de Janeiro.
Logo se veria que se perdera alguma coisa de importante com a separação entre lusos dalém e daquém mar: o controle do atlântico sul, outrora um mar português, tornava-se agora um domínio franco-inglês. Esta situação deverá marcar toda uma época da história do Brasil e da sua relação com o continente africano.
“lícita e honesta é a guerra, ainda que seja entre cristãos e puramente humana, se nela concorrerem quatro condições a saber: autoridade legítima, causa justa, intenção boa e devido modo”, assim Manoel Bernardes conceitua a guerra puramente humana no seu clássico “Nova Floresta”. Não é preciso muito refletir sobre a história para compreender que a herança lusa faz parte do que podemos chamar de autoridade legítima e de uma causa justa.
O século dezanove em seu final, e o vinte em seu começo, viu os dois países mudar de regime político e se tornarem repúblicas com características comuns a todas as repúblicas originárias de estados regalianos ancien régime. Assim como o Estado Novo de Oliveira Salazar, o Estado Novo de Getulio Vargas baseava-se no principio da ordem e da forte autoridade estatal para comandar o grande país luso-americano no meio da grande crise mundial.
Fernando Pessoa.
Na nova era – o novecento – a presença portuguesa no mundo se descobre e se apresenta com especial e inegável luz para orientar o destino do Brasil na sua trajetória de potência tropical e meridional sul-americana. Trata-se da identidade lusa do brasileiro, que se mostra complexa e densa desde os movimentos iniciais do modernismo literário, artístico e cultural. Sendo a obra de Gilberto Freyre, talvez, o mais importante testemunho da universalidade da cultura lusitana. No livro intitulado “Um brasileiro em terras portuguesas”, assim como o fizera no clássico “Casa grande e senzala”, Freyre assume a defesa da miscigenação imposta pelas condições do povoamento e colonização do Brasil e lhe confere um caráter emblemático de resgate histórico da presença portuguesa na formação do homem brasileiro. A nova compreensão antropológica e cultural de Freyre desencadeará uma série de conceitos positivos sobre a influência lusitana no universo antropológico brasileiro. Dela se segue a revisão da forma oitocentista que se pusera a pensar o Brasil mestiço – formado pela fusão do português com o negro africano e o indígena ameríndio – como um Brasil menor frente ao conceito da superioridade da raça caucásica européia. O conceito de Freyre do mestiço lhe dá, senão inegável igualdade na sobrevivência no meio tropical, uma capacidade maior de adaptação e de manobra na lide quotidiana com a natureza e outros grupos humanos.
O processo de formação histórica do homem brasileiro revelou essa peculiaridade de desenvolvimento de uma cultura integradora capaz de amalgamar diferentes fatores étnico-raciais – brancos, pretos, indios e amarelos – sob a inspiração do grupo luso.
Foi sob este signo que nasceu a terra brasílica e o povo brasileiro; e assim se fez respeitar frente aos pares formado por franceses, ingleses e holandeses, contestadores de Tordesilhas. O império luso, a cavaleiro do atlântico e do índico, quando associado à Espanha, se estendia por todo o grande oceano, pois adentrava o pacífico pelos portos hispânicos. A primeira epopéia de disputa da ordem mundial gestada pelas navegações ibéricas terminou com grandes perdas portuguesas, mas com uma grande e decisiva vitória: a permanência da província do estado do Brasil, indiviso e íntegro, sob o domínio português, depois da gloriosa jornada de Guararapes. Foi essa resistência heróica da população luso-americana que permitiu a continuidade da presença portuguesa em todo o território, mais tarde acordado com o tratado de Madrid, que sancionou o uti possidetis e com ele a extensão do espaço brasileiro além Tordesilhas.
A guerra entre Inglaterra e França trouxe para a realeza portuguesa um grande desafio: a necessidade de transposição da corte para o Brasil. Esta grande mudança se deu em 1808 tendo como culminancia do processo a elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves, vale dizer, aquela altura à condição de sede de uma monarquia universal presente em todos os continentes.
A elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e algarves se faz seguir da aclamação de D. João VI e a partir de então o brasil se junta ao mundo das nações imperiais com toda a gravidade dessa condição. A separação de Portugal e das regiões africanas e asiaticas que formavam uma única comunidade de nações se fará por um tempo historico que se abrevia à medida que se avança na construção da comunidade dos países de língua portuguesa.
E de novo o épico de Camões serve de inspiração: “Para servir-vos, braço às armas feito,/ para cantar-vos, mente às musas dada;/ só me falece ser a vós aceito,/ de quem virtude deve ser prezada./ se me isto o céu concede, e o vosso peito/ digna empresa tomar de ser cantada, como a pressaga mente vaticina/ olhando a vossa inclinação divina” canto x, 155.
II - O hoje e o amanhã:
o esperado e o desejado
A grande epopéia portuguesa de conquista das rotas oceânicas do mundo na virada do século XV para o século XVI fez mudar a história do ocidente e do oriente.
Mais uma vez recordemos os versos de Fernando Pessoa na “Mensagem”, vii. Occidente: “Com duas mãos – o acto e o destino –/ desvendámos. No mesmo gesto, ao céu/ uma ergue o facho tremulo e divino/ e a outra afasta o véu./ Fosse a hora que haver ou a que havia/ a mão que ao occidente o véu rasgou, foi alma a sciencia e corpo a ousadia/ da mão que desvendou./ fosse acaso, ou vontade, ou temporal/ a mão que ergueu o facho que luziu,/ foi deus a alma e o corpo portugal/ da mão que o conduziu.”
A importância da conquista lusa das passagens do grande oceano que banha o hemisfério ocidental, da áfrica e da ásia residiu sobretudo na aventura de levar aos continentes mais distantes a fé cristã e a nova ciência da natureza, que veio a substituir o cosmos do mundo antigo pelo universo infinito da era moderna.
Foi essa passagem do ocidente ao oriente que permitiu a Índia e a China se integrarem ao mundo da modernidade e se introduzirem no sistema industrial e urbano que da Europa se estendeu a todo o mundo.
Luis de Camões.
Símbolo vivo dessa relação do mundo lusófono com o oriente tem sido a cidade de Macau que, fundada em 1557, permaneceu administrada por Portugal até 1999, num arco de tempo que foi dos começos da época dos descobrimentos até ao término do segundo milênio da era cristã.
Ao concluir este ensaio passo a avaliar o papel especial de Macau na situação internacional contemporânea.
A região administrativa especial de Macau/China é também um lugar de grande importância para o observador internacional pela aplicação prática de um conceito de alcance universal, criado pelo arquiteto geral da reforma e abertura da China: Deng Xiaoping. Trata-se do conceito de “um país, dois sistemas” que, aplicado a Macau, tem se revelado exitoso ao longo de quinze anos de duração da região especial administrativa de macau.
A partir desse conceito pode ser dado à gente de Macau, como também já o fora para os habitantes de Hong Kong, total autonomia administrativa nos planos econômicos, políticos e financeiros, cabendo ao governo central de Beijing a direção da politica externa e da defesa nacional. Suas diretrizes se fizeram presentes na declaração conjunta sino-portuguesa sobre a questão de Macau, de 13 de abril de 1987 e se tornaram o núcleo da lei básica que governa a região especial administrativa de Macau da R. P. China desde 1999.
Os quinze anos decorridos desde o retorno de macau ao seio da nação chinesa demonstraram o acerto da politica e a importância crucial do conceito de “um país, dois sistemas” para a direção e orientação dos novos dirigentes de macau.
Esses anos revelaram também que Macau não só acompanhou o ritmo acelerado de desenvolvimento chinês como se tornou uma plataforma de cooperação e intercâmbio da China com o mundo de fala portuguesa em todos os continentes.
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